Tempos Cirúrgicos: Entendendo as Etapas de uma Cirurgia

Tempos cirúrgicos são as etapas sequenciais que compõem uma cirurgia, um procedimento complexo que exige planejamento, precisão e coordenação entre diversos profissionais. 

Para garantir que tudo ocorra de forma segura e eficiente, os procedimentos cirúrgicos são divididos em tempos cirúrgicos, etapas sequenciais que organizam o fluxo da operação. Cada tempo tem objetivos específicos, instrumentais adequados e a atuação de profissionais especializados. Neste artigo, vamos explorar cada um desses tempos, detalhando suas funções, os instrumentos utilizados e o papel de cada membro da equipe cirúrgica.

Pré-Operatório: A Preparação é Fundamental para a Cirurgia

O pré-operatório é a fase que antecede a cirurgia propriamente dita. Aqui, o foco é garantir que o paciente esteja em condições ideais para o procedimento e que o ambiente cirúrgico esteja completamente preparado.

Antes da cirurgia, o paciente passa por uma avaliação clínica completa, incluindo exames laboratoriais, imagem e avaliação de riscos anestésicos.

A área a ser operada é limpa com antissépticos, como clorexidina ou álcool 70%, para reduzir o risco de infecções.

A área cirúrgica é isolada com panos ou campos estéreis, criando uma barreira contra contaminações.

Os materiais utilizados são: antissépticos (soluções como clorexidina, iodopovidona ou álcool 70 %), seringas e agulhas (para a administração de anestésicos locais ou gerais) e campo cirúrgico (panos estéreis para isolar a área à gerais).

Os profissionais responsáveis envolvidos nesse processo, são: cirurgião (responsável pela avaliação pré-operatória e planejamento da cirurgia), anestesista (administra e monitora os sinais vitais do paciente) e enfermeiro instrumentador (prepara o campo cirúrgico e organiza os instrumentos ).


A antissepsia é um dos passos mais importantes do pré-operatório. Um estudo publicado no Journal of Hospital Infection mostrou que a clorexidina é 50% mais eficaz do que a iodopovidona na redução de infecções cirúrgicas.

Quais os 4 tempos cirúrgicos?

Tempo Diérese

É o primeiro tempo cirúrgico, caracterizado pela incisão ou abertura dos tecidos para acesso à área a ser operada. Essa etapa exige precisão para evitar danos a estruturas adjacentes. Os principais instrumentais utilizados são o bisturi, as tesouras cirúrgicas e, em alguns casos, o eletrocautério. O cirurgião principal, com o auxílio do instrumentador cirúrgico, é o responsável por essa etapa. O cirurgião  realiza a incisão e a exposição do campo cirúrgico. O  auxiliar de enfermagem ajuda na exposição e limpeza do campo.

A escolha do local e do tipo de incisão depende da cirurgia. Por exemplo, em uma laparotomia, a incisão é feita na parede abdominal, enquanto em uma craniotomia, é feita no crânio.

Mesmo durante a incisão, o cirurgião já começa a controlar pequenos sangramentos com pinças hemostáticas ou eletrocautério.

Os instrumentais utilizados nesse tempo, são:

Bisturi: Instrumento com lâmina afiada para cortes precisos.

Tesouras cirúrgicas: Para dissecção de tecidos e ampliação da incisão.

Afastadores: Instrumentos que ajudam a expor a área cirúrgica, como o afastador de Farabeuf ou o de Gelpi.


O bisturi elétrico, ou eletrocautério, é amplamente utilizado em cirurgias modernas. Ele não só corta os tecidos, mas também cauteriza os vasos sanguíneos, reduzindo o sangramento durante a incisão.

Tempo Hemostático

A hemostasia consiste no controle do sangramento durante a cirurgia, garantindo um campo operatório limpo e seguro. As técnicas de hemostasia podem ser mecânicas  (com pinças ou suturas), térmicas (com eletrocautério) ou químicas (com agentes hemostáticos). A equipe envolvida inclui o cirurgião, o auxiliar de cirurgia e o enfermeiro instrumentador, que trabalham em conjunto para prevenir complicações. O cirurgião deve identificar e controlar vasos sanguíneos de maior calibre para evitar sangramentos significativos.

Instrumentais utilizados:

Pinças hemostáticas: Como a pinça de Kelly ou a de Halstead, para pinçar vasos.

Eletrocautério: Para coagulação de vasos sanguíneos.

Suturas e ligaduras: Fios absorvíveis ou não absorvíveis para fechamento de vasos.

Exérese

A exérese é a etapa central da cirurgia, onde o procedimento principal é realizado. Pode envolver a remoção de um órgão, a correção de uma lesão ou a implantação de uma prótese.

Instrumentais como pinças de preensão, tesouras cirúrgicas e afastadores são essenciais para essa fase. As técnicas empregadas nessa fase dependem do tipo de cirurgia. Por exemplo, em uma colecistectomia (remoção da vesícula biliar), o cirurgião utiliza técnicas de dissecção e ligadura dos ductos biliares.

Durante todo o procedimento, o anestesista monitora os sinais vitais do paciente. O instrumentador é responsável de entregar os instrumentais para o cirurgião.

Instrumentais utilizados:

Pinças de dissecção: Para manipulação de tecidos (Pinça Anatômica Serrilhada, Dente de Rato, Adson com ou sem dente).

Tesouras e bisturis: As Tesouras de Metzenbaum, por exemplo, são utilizadas para cirurgias mais delicadas. Enquanto Tesouras de Mayo, são utilizadas para tecidos mais resistentes. As tesouras retas, geralmente, são manipuladas pelo auxiliar para cortar fios e suturas. As curvas, pelo cirurgião no tecido do paciente. 

Os bisturis possuem tamanhos diferentes. Os mais comuns, são: o Bisturi N.º 3 com lâminas menores (Nº 10, 11, 12 e 15) e o Bisturi Nº 4 com lâminas maiores (Nº 20, 21, 22, 23, 24 e 25).

Suturas e grampeadores: Para fechamento ou reconstrução.

Síntese Cirúrgica

A síntese cirúrgica é o fechamento da incisão, restaurando a integridade dos tecidos. Para essa etapa, são utilizados agulhas e fios cirúrgicos, grampeadores e, em alguns casos, adesivos teciduais. A síntese adequada é crucial para a cicatrização e prevenção de infecções, sendo realizada pelo cirurgião com o auxílio da equipe.

Podem ser contínuas ou interrompidas, dependendo da necessidade de resistência e estética. Fios absorvíveis são usados para tecidos internos, enquanto fios não absorvíveis são preferidos para a pele.

Instrumentais utilizados:

Porta Agulhas, agulhas e fios de sutura: De diferentes calibres e materiais.

Grampeadores cirúrgicos: Para fechamento rápido da pele.

Adesivos cirúrgicos: Em alguns casos, para fechamento sem sutura.

Pós-Operatório

O tempo pós-operatório é a fase de recuperação do paciente após a cirurgia. Envolve monitoramento, cuidados com a ferida cirúrgica e prevenção de complicações.

 O paciente é observado em uma sala de recuperação, onde seus sinais vitais são monitorados continuamente. A incisão é limpa e coberta com curativos estéreis.

Analgésicos e antibióticos são administrados conforme necessário.
A recuperação pós-operatória é tão importante quanto a cirurgia em si. Um estudo da American Journal of Surgery mostrou que pacientes que recebem cuidados pós-operatórios adequados têm 30% menos complicações.

Os tempos cirúrgicos são a espinha dorsal de qualquer procedimento cirúrgico. Cada etapa exige técnica, precisão e a colaboração de uma equipe multidisciplinar. Desde a preparação do paciente até a recuperação pós-operatória, cada momento é crucial para o sucesso da cirurgia. Com o avanço da tecnologia e das técnicas cirúrgicas, esses tempos têm se tornado cada vez mais eficientes, garantindo melhores resultados e maior segurança para os pacientes.

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Daniel Bender

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